Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisas Datafolha, a pedido da Uber, apontou que a maior parte dos motoristas de aplicativos prefere a flexibilidade ao vínculo empregatício com as plataformas. Além disso, para a categoria, o mais importante na regulamentação da atividade — proposta que tramita no Congresso Nacional — seria ter a ajuda do governo para a trocar de veículos.
O Datafolha ouviu 1.800 profissionais com cadastro ativo no app em todas as regiões do país, de maio a agosto deste ano. De acordo com o levantamento, seis em cada dez condutores não gostariam de ser empregados de uma plataforma pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Apenas 25% aceitariam ter um vínculo formal com o app. Outros 14% não souberam responder.
A pesquisa ainda abordou a opinião dos motoristas sobre a possibilidade de trabalho intermitente — modalidade criada na Reforma Trabalhista de 2017, que permite prestar serviços de forma não contínua, com alternância entre períodos de atividade e inatividade. Neste caso, 66% disseram considerar o modelo inadequado.
Os participantes da pesquisa ainda forma perguntados se aceitariam mudar para um emprego com carteira assinada, ganhando o mesmo valor líquido que recebem mensalmente da plataforma. Segundo o Datafolha, 54% responderam que não fariam essa opção.
“Os dados mostram que o motorista valoriza a flexibilidade e rejeita modelos que restrinjam sua liberdade ou engessem a dinâmica atual. É preciso ter cuidado no debate regulatório para que as eventuais mudanças não acabem por comprometer o modelo justamente naquilo que os trabalhadores efetivamente valorizam nele hoje”, afirmou o diretor de Políticas Públicas da Uber, Ricardo Leite Ribeiro.
Perfil
Ao traçar o perfil dos motoristas, o Datafolha constatou que 90% são chefes de família (90%). Quando o assunto é escolaridade, 58% têm ensino médio completo.
Ao considerar a jornada de trabalho, 60% ficam até 20 horas por semana on-line nas plataformas. No quesito renda, 58% possuem outra fonte de ganhos além dos apps. Além disso, 74% trabalham com mais de um aplicativo no dia a dia, e 72% desejam continuar trabalhando com as plataformas.
Quanto aos motivos pelos quais os motoristas atuam nas plataformas, 87% indicaram o aumento do custo de vida, seguido pela flexibilidade e pela autonomia para decidir quando e onde trabalhar (84%), para ganhar dinheiro e realizar projetos pessoais ou da família (80%) e pela necessidade de complementar uma renda insuficiente (79%).
Interesses
A pesquisa também levou em conta as expectativas da categoria em relação ao governo. A maioria (52%) defendeu a concessão de um auxílio para a compra de veículos, com linhas de financiamento ou incentivos.
Outros 17% citaram o interesse pela cobertura previdenciária, 7% gostariam de participar de programas de capacitação, e 1% respondeu que preferiria uma melhora na remuneração ou a definição de uma tarifa mínima por quilômetro percorrido.
Ainda segundo o Datafolha, 21% disseram que o governo não deveria interferir na relação dos motoristas com as plataformas, e 1% afirmou esperar apenas que não fossem cobradas taxas ou impostos da categoria.
As maiores preocupações da categoria
O que mais mobiliza a categoria é a preocupação com a manutenção e conserto dos veículos. Esse quesito foi citado por 49% dos motoristas. O medo de assaltos apareceu em segundo lugar, apontado por 37%.
Na sequência, foram listados o medo de perder a renda por conta de algum acidente (para 36% dos profissionais) ou o temor de ficar sem trabalhar por motivo de doença (para 31% dos condutores).
Proteção da Previdência Social
Quando o assunto é proteção previdenciária, 60% dos profissionais ouvidos pela pesquisa disseram já estar cobertos pelo INSS ou por planos privados. Dentre esses, 33% têm cobertura por serem também empregados de empresas privadas ou públicas (33%), enquanto 18% contribuem como autônomos, e 9% contam somente com previdência privada.
A pesquisa ainda identificou os motivos pelo qual uma parcela desses trabalhadores não têm cobertura previdenciária. O custo da contribuição foi a razão citada por 32% dos entrevistados. Outros 23% alegaram que o sistema atual de contribuição é incompatível com sua realidade, e 17% mencionaram a alta burocracia.
Discussão na Justiça
Nem mesmo a discussão na Justiça sobre o vínculo trabalhista entre motoristas e plataformas foi deixada de lado. O assunto está no Supremo Tribunal Federal (STF), que vai julgar um processo envolvendo a Uber, com repercussão geral (Tema 1291). Isso quer dizer que a decisão da Corte, quando proferida, valerá para todas as instâncias do Poder Judiciário. O julgamento já começou. As partes envolvidas foram ouvidas, mas a discussão foi temporariamente suspensa, e ainda não há data para ser retomada.
Diante disso, o Datafolha perguntou a opinião dos motoristas sobre o assunto: 56% concordaram que a falta de uma definição sobre a questão causa insegurança sobre o futuro. Caso o STF entenda que há vínculo empregatício entre profissionais e aplicativos, 50% procurariam outra atividade como autônomo e 16% como empregado (16%).
A pesquisa
A pesquisa foi feita por meio de um questionário com autopreenchimento. Os motoristas foram convidados a participar por e-mail. A margem de erro máxima para o total da amostra é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

