Diante dos últimos registros de “rolezinhos” noturnos de motocicletas em Fortaleza, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) está atuando em conjunto com a Polícia Militar do Ceará para monitorar motociclistas que estão participando de buzinaços e realizando manobras perigosas na Capital.
Na última segunda-feira, 27, o órgão frustrou evento que aconteceria na avenida General Osório de Paiva, em frente ao Ginásio Poliesportivo da Parangaba. Na ocasião, foram abordados 26 motociclistas e aplicadas 31 autuações por situações que colocam em risco a circulação dos veículos e a segurança viária.
Neste mês de dezembro, vídeos com dezenas de motociclistas fazendo barulho excessivo nas ruas de Fortaleza têm circulado pelas redes sociais. Nas imagens obtidas pelo O POVO, é possível ver condutores que trafegam sem capacete e realizam manobras arriscadas, como o “zerinho” — em que a moto fica girando em torno do seu próprio eixo.
Infrações e multas
Caso seja constatado que uma motocicleta não possui descarga com silenciador, o condutor será autuado com infração de natureza grave, com retenção da moto para regularização e aplicação de multa de R$ 195,23. Em relação à buzina, o uso prolongado e sucessivo em locais e horários proibidos pode acarretar infração de natureza leve, com multa de R$ 88,38.
Manobras perigosas e disputas de corridas, conhecidas como “rachas”, também são consideradas infrações, ambas gravíssimas. A multa decorrente é multiplicada 10 vezes e a intervenção pode resultar na remoção do veículo e na suspensão do direito de dirigir.
Em nota, a Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) disse que as irregularidades não dizem respeito às competências do órgão, pois se enquadram como infrações de trânsito. O POVO solicitou, na última segunda-feira, 29, um balanço de denúncias e autuações envolvendo “rolezinhos” ao Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE), mas não recebeu resposta oficial até a publicação desta matéria.
“Rolezinhos” também estão ligados à solidariedade e protestos, apontam motociclistas
A prática dos “rolezinhos”, no entanto, não deve ser ligada somente à baderna, conforme defende Israel Barbosa, integrante do Aventureiros Moto Grupo e organizador de eventos que reúnem inúmeros motociclistas. Ele explica que as ocasiões que ele participa e ajuda a promover têm como objetivo divulgar o motociclismo, assim como arrecadar doações e realizar eventos religiosos.
Na última semana de Natal, por exemplo, cerca de 40 a 50 motociclistas saíram por cidades do Interior do Ceará para levar cestas básicas e brinquedos para famílias carentes. Barbosa enfatiza que os encontros promovidos com práticas inadequadas, com organizadores desconhecidos pelo meio, têm gerado revolta entre os integrantes de motoclubes e motociclistas, que reprovam as atitudes constatadas nas filmagens.
Cleiton Farias, fundador da Associação de Motoboys de Fortaleza, aponta que alguns dos “rolezinhos” têm como objetivo protestar contra o número de blitze da Capital, o qual ele considerou excessivo, e uma suposta perseguição contra os motociclistas por órgãos de fiscalização da Cidade. Ele argumenta que os passeios devem obedecer algumas condições, como não trafegar em áreas com hospitais, asilos e outros estabelecimentos que precisam de silêncio, mas admite que a situação pode sair do controle.
“Sempre tem aquele que fica acelerando, ‘colocando a moto para cantar’. E ainda existem as pessoas que botam a moto com descarga barulhenta, que entram para aparecer no meio do rolezinho”, pondera. “Estamos fazendo isso para chamar atenção e bater de frente com a perseguição que estamos enfrentando”, afirma Cleiton, enfatizando que a iniciativa não é organizada por motociclistas entregadores.