Em novembro, nas seis UPAs da Capital geridas pelo Governo do Estado, foram 830 atendimentos de pessoas com síndromes gripais causadas por coronavírus; para especialista, fluxo é “termômetro” da pandemia
Um dos primeiros espaços procurados por cearenses que precisam de socorro à saúde, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) têm refletido diretamente a dinâmica da pandemia de Covid-19 em Fortaleza: desde março, mais de 12 mil atendimentos de pacientes com síndromes gripais pelo novo coronavírus foram realizados nas seis UPAs da Capital geridas pelo Governo do Estado. Só em novembro, até dia 22, foram 839 atendimentos – o maior número registrado desde julho.
As informações sobre os procedimentos realizados nas UPAs, constam na plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde (Sesa). Fortaleza tem 12 UPAs, mas no IntegraSUS há dados disponíveis somente daquelas gerenciadas pelo Governo do Estado. Esses equipamentos estão localizados nos seguintes bairros: Autran Nunes, Canindezinho, Conjunto Ceará, José Walter, Messejana e Praia do Futuro. A Prefeitura é responsável por outras seis UPAs, situadas no Vila Velha, Cristo Redentor, Bom Jardim, Itaperi, Jangurussu e Edson Queiroz, mas, conforme já explicitado, os dados sobre esses seis equipamentos não estão publicizados na plataforma online da gestão estadual.
Os números das seis UPAs da rede estadual na Capital mostram que de janeiro a 22 de novembro, foram realizados 50.364 atendimentos de pessoas com síndromes gripais. Do total, em 12.095 ocorrências havia infecção por coronavírus, e o restante tinha os sintomas provocados por influenza, pneumonias, insuficiência respiratória ou outras causas não especificadas, segundo o levantamento da Sesa. A Pasta foi contactada na manhã de ontem para falar sobre o assunto, mas até o fechamento desta edição, nenhuma resposta foi repassada.
Classificação
No IntegraSUS, as informações sobre os atendimentos relacionados às síndromes gripais são apresentadas conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID), categorização desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e adotada mundo afora para, dentre outras funções, monitorar a incidência das doenças nos territórios. Na plataforma da Sesa, não há menção específica à Covid, e sim, às classificações do vírus que a provoca: o novo coronavírus.
Se olhados mês a mês, os dados dos procedimentos das UPAs da Capital se tornam mais preocupantes. Em março, primeiro mês da pandemia no Estado, foram registrados 525 atendimentos nas UPAs de pessoas com síndromes gripais causadas por coronavírus. Em abril, o número saltou para 2.267; e em maio, atingiu o pico de 4.438. Em junho, os atendimentos começaram a cair, chegando a 1.081; em julho, 1.057; em agosto, 589; e em setembro, 484.
Desde outubro, porém, a quantidade de atendimentos, nessas unidades, de pacientes com coronavírus vem aumentando: foram 815 casos no mês, seguidos por 839 em novembro, até dia 22, quando 3.202 atendimentos em virtude de sintomas gripais foram buscados nos equipamentos. Foi neste mês, inclusive, que o número de exames realizados também voltou a crescer, totalizando 504 – segundo maior quantitativo da pandemia. O mês líder em testes foi maio, com 590.
Termômetro
O fluxo nas UPAs contribui para evidenciar a velocidade de propagação da Covid-19 na Capital, e funciona como um termômetro da pandemia, como destaca o médico infectologista Robério Leite. “É importante porque explicam um pouco do que está acontecendo na vida real, na base do atendimento, porque é quase medicina primária. Então, é um espelho do que pode estar acontecendo do ponto de vista de diluição de infecções, no caso respiratórias, na nossa cidade e no Estado”, afirma.
Os indicadores, frisa o especialista, se tornam mais precisos com a identificação do vírus, seja causador da Covid-19 ou de outras enfermidades. “É incomum que a gente tenha influenza nessa época do ano, por exemplo. As síndromes podem ser por outros vírus respiratórios. Mas o mais importante do ponto de vista de atenção médica é (o tratamento) do paciente com síndrome gripal que se enquadra na síndrome respiratória aguda grave, com desconforto respiratório”, acrescenta Robério.
Com isso, a orientação para quem tiver febre e dificuldade para respirar segue sendo a busca por ajuda médica – seja presencial ou por meio remoto. “Estamos vendo a Europa com a segunda onda bem firme, que é extremamente preocupante. E como a gente já desmobilizou boa parte das unidades de saúde, de números de leitos e tudo, isso preocupa. Não dá para dizer, do ponto de vista epidemiológico, se estamos próximos ou no início de uma segunda onda”, reflete Robério Leite.
Os dados evidenciam ainda que em 3.408 atendimentos de pacientes com coronavírus, o equivalente a 28,17%, a classificação foi vermelha ou laranja, o que indica um caso gravíssimo, com necessidade de atendimento imediato. Nas situações dos pacientes com classificação laranja, a espera pode ser somente de até 10 minutos. Na vermelha não é possível esperar.
Transferências
A recepção de pacientes nas UPAs tem impacto direto também na disponibilidade de leitos específicos para Covid-19, uma vez que grande parte dos que chegam aos hospitais são transferidos dessas unidades. Entre janeiro e novembro, 1.341 doentes foram deslocados das seis UPAs estaduais a equipamentos hospitalares – e 617 deles tinham coronavírus, o que equivale a 46% do total, conforme dados do IntegraSus. O mês de maio, pico da pandemia em Fortaleza, registrou o maior quantitativo de transferências de infectados pelo vírus pandêmico, foram 351 procedimentos do tipo. Em novembro, até o dia 22, este número foi de 21.
O infectologista Robério Leite explica que transferir é necessário para dar prosseguimento ao tratamento dos pacientes mais complexos, que exigem cuidados por um período maior de tempo. “A UPA é só uma entrada no sistema e, em geral, para um paciente numa situação mais complexa. Então, a maioria vai precisar só de internação em leitos hospitalares, mas tem de separar os pacientes com quadro mais grave pensando nas UTIs”, pondera.
As UPAs são portas de entrada da rede pública e, em 2020, nos seis equipamentos do tipo geridos pelo Governo do Estado em Fortaleza, foram feitos 12.095 atendimentos a pacientes com Covid-19. Em queda desde junho, os procedimentos do tipo voltaram a crescer em novembro