Camilo defende microcrédito como alternativa a auxílio emergencial

Camilo defende microcrédito como alternativa a auxílio emergencial

Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o governador Camilo Santana (PT) defendeu a concessão de linhas de crédito e capacitação para a população mais vulnerável, como alternativa ao auxílio emergencial que termina neste mês. O Estado aprovou, recentemente, a criação de um fundo na Assembleia Legislativa para financiar pequenos negócios. A ideia é seja um tipo de “banco popular”.

O chefe do Executivo destacou a implantação de programas focados nos jovens para tentar reduzir a violência e os investimentos estratégicos para 2021 na área da Segurança. Ele avaliou, ainda, como “positivo” o resultado das eleições para o seu grupo político e analisou cenários de 2022. Camilo garantiu dialogar com todos os prefeitos, inclusive da oposição.

O ano de 2020, que começou com uma crise na Segurança, vai terminando agora com uma pandemia, qual a sua avaliação?

Considero que foi um ano desafiador. Começando com o motim, problema na segurança, que estamos tentando reestruturar. Precisamos fazer uma série de mudanças dentro da estrutura da Segurança Pública. Além da pandemia, que continua, agora há o aumento de casos. Precisamos tomar medidas preventivas. Estamos encerrando o ano com os desafios da pandemia, não só do ponto de vista de estruturar a rede de saúde pela prioridade de salvar vidas, mas também terminar o ano recuperando, de certa forma, a economia. Vamos encerrar o ano provavelmente com saldo positivo em emprego, com o PIB do último trimestre muito maior do que o do Brasil. Que possamos ter logo no início de 2021 as vacinas. Isso vai garantir a retomada da normalidade.

E o ano de 2021 também trará dificuldades. O que se pode esperar dele?

Vamos continuar tendo como prioridades sempre a Educação e investimentos em infraestrutura, na Economia, porque a população está muito sofrida. O fim do auxílio emergencial traz muitas dúvidas sobre a capacidade de acolhimento para o perfil dessa população. Se não tiver uma outra política nacional de proteção a essas pessoas, vamos ter mais dificuldades.

Aprovamos na Assembleia, agora, a criação de um fundo de apoio de microcrédito, que estamos chamando de Banco Popular. Ao invés de o Estado dar um auxílio (emergencial), queremos dar uma linha de crédito ao pequeno comerciante. Isso cria uma perspectiva positiva para 2021.

Mas será um ano desafiador, tanto quanto 2020, nem tanto por conta da pandemia, mas pela economia. Será preciso estruturar e garantir muitas das ações de políticas públicas e dos investimentos para assegurar o aquecimento da economia. É um esforço que vem sendo feito fortemente neste 2º semestre. Num estado como o Ceará no Nordeste, o papel do poder público é muito forte na economia (nas obras públicas, geração de emprego etc). Garantir o volume de investimento é importante. Fomos por cinco anos o estado com o maior número de investimento proporcional à receita no País.

O senhor tocou na questão do auxílio emergencial. É possível o Estado fazer algo neste sentido?

A ideia é justamente esse crédito. Permite que você possa criar uma condição de sobrevivência a médio prazo. Quando você recebe aquele dinheiro imediato, você gasta e… Quando é um crédito, você monta um pequeno negócio, tem um capital para começar. Você cria a opção de uma atividade mais permanente. Essa é a lógica. Mas eu acredito que o Congresso Nacional aprovará alguma coisa sobre isso. Há, inclusive um projeto do senador Tasso (Jereissati).

Esse fundo, esse “banco popular”, vai ser liberado quando?

A equipe já está organizada. Fiz questão de aprovar logo agora (em 2020). Como a gente tem uma política de capacitação, eu tenho conversado, inclusive com o Senai, o Sesc, para que as pessoas possam ser capacitadas, ter uma profissionalização e ter uma linha de crédito mais ágil e mais fácil.

Como isso vai acontecer na prática?

Estamos estudando para ser sem juros. Ainda não há definição do valor do fundo. Será destinada parte do FDI (Fundo de Desenvolvimento Industrial) que todo ano deverá dar em torno de R$ 35 milhões, fora Fecop (Fundo Estadual de Combate à Pobreza). Queremos algo que possa irrigar esse fundo, é um crédito muito rotativo. Esse tipo de crédito é o que tem menor inadimplência. De 2 a 3%.

Em julho de 2020, o senhor disse que lançaria um plano para a Segurança. Depois mudou o secretário. Em 2021 haverá mais mudanças?

É um desafio no mundo inteiro. O Estado continua trabalhando no eixo da prevenção. Se formos analisar, nenhum estado tem uma política mais forte que as areninhas, de tirar jovens das ruas, Escola de Tempo Integral, Praça Mais Infância e etc. Há políticas fortes para quem está na escola, mas não há para os que estão fora dela, e não estão trabalhando. Por isso, já iniciamos um programa piloto com 700 jovens com o Projeto Superação – Virando Jogo. A meta era ter 10 mil jovens só em Fortaleza, porém, veio a pandemia. Esses jovens passariam por uma capacitação, mas seria presencial. Há pagamento de uma bolsa, de R$ 200 a R$ 400. Porém, todo foco foi para o combate à pandemia.

E na parte ostensiva?

É o outro eixo. O novo secretário é um dos que mais entendem de inteligência, principalmente a parte investigativa. Precisamos fortalecer, principalmente, a polícia judiciária (Polícia Civil). Por isso, lançamos concursos públicos para PM, Polícia Civil e Pefoce. (Camilo disse que os editais devem ser lançados o mais rápido possível, e que já cobrou isso da área técnica, inclusive). Vamos fortalecer essa questão de pessoal e também em inteligência.

Além dos investimentos em tecnologia. A nossa estratégia foi colocar polícia nas ruas e ao mesmo tempo tentar melhorar a investigação para tentar desbaratar o crime organizado e tráfico de drogas, que é um grande problema que enfrentamos. Temos que integrar informações e dados. Tivemos, inclusive, uma melhoria grande no sistema prisional. Não tenho dúvida de que temos o melhor sistema prisional do Brasil, inclusive o mais humanizado. Formaram-se 4 mil presos nesse ano, a meta é formar mais 10 mil no ano que vem.

Na Saúde, o Estado comprou o Hospital Leonardo da Vinci. Quais são as maiores obras na Saúde?

O Ceará foi dividido em 5 regionais de Saúde. Só faltava o Hospital da macrorregião de Jaguaribe. Está perto de ser entregue, com isso terá um hospital regional em todas as regiões. E o Hospital Universitário em Fortaleza, que será de referência universitária para atender à demanda da RMF. O Leonardo da Vinci vai garantir o aumento de leitos de UTI, havia uma cobrança inclusive do Ministério Público. Com o hospital Leonardo da Vinci, vamos garantir que a gente tenha condições de atender às demandas de cirurgias eletivas e zerar as filas de cirurgia no Ceará.

A base governista elegeu a maioria dos prefeitos no Estado. Mas em cidades grandes, como Caucaia, Maracanaú e Juazeiro, a oposição ganhou. Qual a avaliação que o senhor faz do processo eleitoral?

A eleição passou, vamos procurar dialogar com todos os prefeitos eleitos, inclusive os de oposição. O que está em jogo é a população. O prefeito (eleito) de Caucaia já ligou. Sempre estarei aberto a construir as relações institucionais e deixar a política para as eleições. Defino que foi uma grande vitória da base governista em quase todos os municípios cearenses. E isso reforça esse projeto que tem dado certo no aqui no Ceará.

Além dos municípios citados, teve o caso de Fortaleza, em que o resultado foi apertado. Surpreendeu o senhor?

Tudo na vida são sinais para que se possa avaliar, medir e analisar. O importante é o projeto. Roberto Cláudio foi um grande prefeito. Os desafios da Capital são enormes. Há ainda muita desigualdade na cidade e nós precisamos avançar. Sarto (Nogueira) terá todo o meu apoio para a gente melhorar a vida da população de Fortaleza.

O que o senhor pensa sobre qual deve ser o posicionamento do PT na gestão Sarto?

Defendo que o diálogo deve existir entre o presidente do partido e o prefeito. Defendo que o PT faça parte da base do governo, que ele ajude a governar Fortaleza. Há uma aliança estadual. Tem muito mais convergência do que divergência entre os dois partidos. É uma decisão do prefeito e do partido. Defendo que participe com propostas, ideias, composição na gestão e críticas. É o que desejo e o que defendo. Fui consultado, mas coloquei que quem deveria liderar era o vereador Guilherme (presidente Municipal do PT em Fortaleza).

O senhor defende essa aliança entre PT e PDT. No cenário nacional, acha que é possível a aliança entre esses partidos?

É possível. É preciso ter muita responsabilidade em 2022, um projeto mais progressista e democrático. São esses partidos de esquerda e centro-esquerda que precisam construir essa opção. As energias estarão voltadas para a gestão no próximo ano, mas eu vou defender. Tive oportunidade de fazer o encontro do Ciro e do Lula, depois de anos, para que houvesse o diálogo entre eles. Tem muito mais convergência do que divergência entre os partidos. Vamos tentar construir uma candidatura para 2022. E se não for possível no primeiro turno, que seja no segundo turno.