O Ministério da Economia fez uma série de alertas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o efeito de “estouro da boiada” que a aprovação do reajuste aos servidores federais da segurança pública teria sobre outras categorias. O Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que reúne 37 entidades associativas e sindicais e representa mais de 200 mil servidores federais e estaduais, aprovou no fim de dezembro uma série de mobilizações em janeiro e em fevereiro para pressionar o governo por reajustes salariais. O movimento foi deflagrado após a autorização de R$ 1,7 bilhão no Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2022 para aumento salarial de servidores da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Departamento Penitenciário Nacional (Depen). A mobilização se espraiou para outras repartições e também contará com a adesão de funcionários da Receita Federal, do Banco Central (BC) e das áreas de planejamento e orçamento federal.
À Jovem Pan, pessoas próximas ao ministro Paulo Guedes afirmaram em caráter reservado que o presidente estava ciente das consequências que a medida teria no rompimento do teto de gastos e os seus reflexos no aumento da desconfiança do mercado financeiro na capacidade de o governo conter a expansão fiscal às vésperas da eleição. A medida deve aprofundar a deterioração de indicadores econômicos e impactar na manutenção da inflação em patamar elevado e na escalada dos juros — isso em um ano já cercado de desafios e com previsão de baixo crescimento das atividades. O clima negativo ficou ainda mais carregado após as declarações do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), nesta segunda-feira, 3, sobre “rediscutir” as regras da principal âncora fiscal brasileira em meio ao excesso de arrecadação do governo.
Apesar dos reiterados avisos e da defesa de Guedes do compromisso fiscal, é pouco provável que o ministro deixe o cargo caso as demandas por readequações salariais sejam atendidas pelo governo federal. Também está descartada uma nova debandada de auxiliares da Economia, como a vista em outubro com a participação do ministro nas articulações da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Precatórios, que, entre outras coisas, alterou a regra do teto de gastos. A pressão pela expansão fiscal em meio ao processo eleitoral já era aguardada pela equipe econômica, que vê agora como um momento de se manter firme para evitar um rombo maior.