
O ex-juiz Sérgio Moro afirmou nesta segunda-feira, 6, que o governo do presidente Jair Bolsonaro, durante sua gestão como ministro da Justiça, não teve comprometimento com o combate efetivo da corrupção no Brasil. Durante entrevista à rádio O POVO CBN, o recém filiado ao Podemos revelou que, quando ainda era ministro, foi orientado por um outro ministro de Bolsonaro a não se manifestar sobre sobre a execução de pena em segunda instância. Um novo entendimento do tema pelo Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu, em 2019, a soltura do ex-presidente Lula.
Segundo Moro, o governo federal nunca trabalhou pelo combate à corrupção, a ponto de ser tratado como uma “voz isolada” durante sua gestão no ministro da Justiça. Logo depois, o ex-juiz disse que, depois que o Supremo reviu a decisão sobre a segunda instância e, ao contrário do governo federal, procurou ministros do STF e parlamentares do Congresso Nacional para tentar reverter a questão, inclusive com a apresentação de uma PEC. Neste momento, ele revelou ter sido questionado por um ministro de Bolsonaro.
“O governo não queria isso. Um ministro do presidente, na época quando fui trabalhar para essa emenda, me disse o seguinte: ‘Moro o presidente mandou você não se envolver nisso que o presidente não quer saber desse negócio de segunda instância’. Ele me falou, tá no meu livro inclusive esse episódio” relatou Moro.
O ex-juiz criticou ainda a atual falta de posição do presidente da República em relação à mudança de entendimento do STF em relação à execução de prisão em segunda instância. “Na visão do presidente, politicamente isso era bom para ele. Uma visão terrível, mas verdadeira”, completou.
Moro e Bolsonaro têm trocado críticas nos últimos dias. Na última semana, ele afirmou que o mandatário ficou inerte sobre o tema a ponto de comemorar até a soltura de Lula, seu adversário político. O presidente reagiu, o chamando de “mentiroso”. Ao defender a volta da medida sobre a segunda instância, o ex-ministro citou que o projeto sobre o assunto será discutido nesta semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal.
Na última quinta-feira, 2, o presidenciável ainda disse que Bolsonaro teria mandado apagar de seu Twitter uma publicação sobre segunda instância, feita por um de seus filhos. Moro não citou qual dos rebentos do presidente teria feito a postagem. “Inclusive, na época, o filho dele fez lá no Twitter dele, falando da execução em segunda instância e o presidente mandou apagar. Foi um episódio meio constrangedor”, revelou o ex-ministro, durante entrevista à rádio Jovem Pan Paraná.
