Pelo menos quatro municípios já solicitaram transferência de pacientes por dificuldades no suprimento de oxigênio

Pelo menos quatro municípios já solicitaram transferência de pacientes por dificuldades no suprimento de oxigênio

Com o aumento das hospitalizações e, consequentemente, necessidade de suporte de oxigênio para pacientes com Covid-19, a pressão para fornecimento do insumo aumenta. Pelo menos quatro municípios já solicitaram ao setor de regulação do Estado a remoção de pacientes por conta de dificuldades de suprimento de oxigênio: Caucaia, Beberibe, Maranguape e Eusébio. As prefeituras não chegam a confirmar a falta do insumo, mas admitem grande demanda por oxigênio e pedidos de transferência de pacientes para desafogar as redes locais de saúde. 

Conforme a secretária executiva de Vigilância e Regulação da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Magda Almeida, os municípios citados apresentaram dificuldades de abastecimento ou logística que resultaram na necessidade de transferência de pacientes. Contudo, outros municípios também podem estar sob risco da falta do insumo.

Empresa que fornece oxigênio medicinal para hospitais de municípios do Ceará enviou alerta, em nota, para a possível falta do produto nos próximos dias. Os fornecedores estariam com a sua capacidade de envase “totalmente comprometida”, informou a A&G. A Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) diz que tem ‘suporte garantido’ em todas as unidades da rede estadual. 

Conforme a assessoria da pasta, foi estabelecido um planejamento de suprimento de oxigênio hospitalar e emitido comunicado oficial para as empresas fornecedoras do insumos. Em nota, a Secretaria diz que provocou todos os gestores municipais a fazerem planejamento a fim de garantir o abastecimento de suas unidades de saúde, “cujas responsabilidades estão relacionadas aos gestores ou ao próprio município”.

Além disso, a pasta frisou que o Estado se dispõe a orientar sobre o planejamento em situações emergenciais, colaborar com empréstimos, transferências de pacientes e ajustes na condução terapêutica. 

No Estado, a taxa de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é de 88,87%. No caso dos leitos de enfermaria, a ocupação é de 77,32%. Conforme a plataforma IntegraSUS, da Sesa, Estado tem ainda 180 pacientes em máscara reservatório e 67 pacientes em ventilação mecânica.

Municípios

Segundo Yonara Batista, secretária da Saúde de Beberibe, o município não chegou a ter falta de oxigênio, mas a demanda está grande e preocupa. “Estamos ficando com pacientes que não são do perfil do nosso hospital, que precisam de UTI mas não conseguem transferência. Nosso hospital não tem UTI. Nosso fornecedor já nos avisou que podemos ter problema no fornecimento. Não chegou a faltar, mas por receio a gente pede logo a transferência”, explica.

Ela disse que nos meses de janeiro e fevereiro, o estoque abastecido garantia a oferta de oxigênio por uma semana, em média. “Agora, estamos abastecendo de dois em dois dias. Antes, quando o estoque estava em 50%, a gente solicitava novamente. Ontem, abasteci e hoje já solicitei novamente”, diz. 

A assessoria da prefeitura de Eusébio negou a falta de oxigênio. O secretário municipal da Saúde, Josete Malheiros, informou, por meio de nota, que o “abastecimento está regular, e temos ainda duas usinas de O2 em funcionamento. Uma na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e outra no Hospital”. Na última sexta-feira, 5, pacientes com Covid-19 de cidades vizinhas ao município de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), recorreram à UPA do município para conseguir atendimento.

“De imediato acionamos a Central Estadual de Leitos para ajudar a transferir os pacientes com diagnóstico Covid-19 que já aguardavam leitos hospitalares há alguns dias, de modo a podermos estabilizar os que chegaram. E assim foi feito, de modo solidário, como é o SUS e todos foram atendidos”, informou a assessoria.

A prefeitura de Caucaia informou que “todas as unidades de saúde trabalham hoje com alerta máximo de cuidado”. “Portanto, a Secretaria da Saúde de Caucaia, tomando conhecimento do aumento no volume de atendimento da UPA da Jurema, que funciona sob a gestão da Fundação Leandro Bezerra, alertou a Central de Regulação do Estado para necessidade de atendimento especial para 5 pacientes. Porém, reforça que em nenhum momento faltou oxigênio na UPA apesar da alta demanda”, respondeu, por meio de nota.

O município de Maranguape respondeu que o Hospital Municipal Dr. Argeu Braga Herbster tem seu fornecimento de oxigênio à base de cilindros e é abastecido com novos cilindros diariamente e em dois turnos. No entanto, na última sexta-feira (5), a distribuidora só teria conseguido entregar os insumos uma vez no dia, comprometendo o uso no hospital.

“Com um consumo diário de cerca de 45 cilindros, o Hospital ficou apenas com 50, ou seja, na margem do limite. Por precaução, a Secretaria da Saúde do município solicitou ajuda ao Estado, fosse com mais cilindros ou transferências. O Estado nos atendeu com duas transferências de pacientes entubados. Posteriormente, a Prefeitura de Maranguape conseguiu mais dez cilindros e deu uma margem de segurança maior ao problema gerado naquele dia. Um processo de instalação de uma usina de oxigênio, no entanto, já foi iniciado no Hospital e a conclusão se dá entre 30 e 45 dias. A Prefeitura entende que essa implantação dará autonomia suficiente no fornecimento deste insumo”, completou.

Produção de oxigênio 

A White Martins, uma das maiores fornecedoras de oxigênio hospitalar do Brasil, informou que “mantém o fornecimento de oxigênio líquido aos seus clientes das redes de saúde pública e privada no Ceará, conforme estabelecido em contrato”. O Ceará sedia a maior planta da multinacional no Brasil e uma das maiores da América Latina. A unidade do Pecém tem capacidade de produzir até 180 mil metros cúbicos de oxigênio por dia e atualmente possui um estoque de cerca de 4 milhões de m3 de produto.

A companhia informou que tem informado aos seus clientes e às autoridades de saúde locais sobre variações de consumo de oxigênio. A empresa solicitou que as necessidades de acréscimo no fornecimento do produto e a previsão da demanda sejam comunicadas formalmente e em tempo hábil. “Isso porque compete às instituições de saúde públicas e privadas sinalizar qualquer incremento real ou potencial de volume de gases às empresas fornecedoras, de modo que a empresa possa ajustar a logística de fornecimento por conta da necessidade de mais veículos na operação”, informa nota enviada pela assessoria de imprensa.

A empresa frisa que os estabelecimentos têm acesso a “dados que compõem o panorama epidemiológico da Covid-19, como o índice e a velocidade de contágio da doença, o crescimento da taxa de ocupação de leitos, a abertura de novos leitos, a implantação de hospitais de campanha, a quantidade de pacientes atendidos, bem como a classificação dos casos”. “A White Martins – como qualquer fornecedora deste insumo – não tem condições de fazer qualquer prognóstico acerca da evolução abrupta ou exponencial da demanda”, finaliza.