Eleito em um pleito atípico para os moldes do presidencialismo brasileiro, Jair Bolsonaro fez um primeiro ano de governo com altos e baixos: avanços na economia, declarações polêmicas e desencontros na política. E é exatamente sobre esse último aspecto que vamos tratar aqui. Logo após ser eleito, o cenário político já estava traçado para o presidente: a derrota apenas no Nordeste mostrava um caminho a ser percorrido para avançar na região. Após um ano, no entanto, o cenário pouco se alterou e o ano de eleições municipais começa no Nordeste com muitas interrogações e praticamente nenhuma certeza. Até agora, o presidente não veio ao Ceará e nem tem data para isso, conforme confessou, ontem, em videoconferência com apoiadores que realizaram ato de coleta de assinaturas de simpatizantes na Capital cearense.
Da esquerda para direita: Capitão Wagner e André Fernandes (acima); Manoel Cardoso Linhares e Lucas Fiuza (abaixo) são apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Estado do Ceará
O caso de Fortaleza, por sinal, é bastante emblemático. O relato das lideranças políticas locais (de todos os lados do aspecto político) é de que as pesquisas internas apontam uma baixa popularidade do presidente na Capital. Os números, no entanto, também são relativos. Bolsonaro comanda o Governo Federal, uma máquina administrativa forte que pode (e vai) agir no momento certo para tentar entrar com força no jogo eleitoral. Os números da economia e da segurança podem ser uma locomotiva para o grupo dele.
Peças no jogo
Mas qual liderança deve ser o porta-bandeira do presidente no pleito de outubro? Principal opositor da gestão Roberto Cláudio, Capitão Wagner, embora tenha pedido votos para Bolsonaro na eleição 2018, fez opção, até agora, de não colar sua imagem na do presidente. Como deputado, tem votado fora da orientação da bancada governista, apoiando os projetos de acordo com suas conveniências. Votou contra, por exemplo, a reforma da Previdência. Wagner precisa reforçar sua pré-candidatura, mas ainda aguarda um cenário mais claro para se posicionar.
Bagunça
Internamente, os movimentos pró-Bolsonaro vivem turbulência no Ceará. O caso mais emblemático é o do PSL, partido pelo qual o presidente foi eleito, mas que virou alvo da artilharia bolsonarista em um curtíssimo espaço de tempo. Heitor Freire, deputado federal, se apresentou após as Eleições como o “homem do presidente no Ceará”. Durou pouco. Passou a ser contestado pelos filiados ao partido no Estado. Mas o que azedou totalmente a relação de Heitor com o Planalto foi o vazamento de uma conversa por telefone que ele teve com Bolsonaro. O cearense nega que tenha sido responsável pela divulgação, mas o fato é que vazou. E Heitor perdeu cargos no governo. Foi, inclusive, um dos últimos deputados cearenses a ter emendas liberadas no ano de 2019. Aliados dele acreditam em retaliação.
Fidelidade
A fidelidade ao presidente no Ceará tem sido encarnada pelos deputados estaduais André Fernandes e Delegado Cavalcante, ambos do PSL, mas que já estão pulando o muro – aguardam apenas a formalização do Aliança pelo Brasil. André, inclusive, pode ser um dos nomes na eleição 2020 na Capital. De perfil incendiário, por vezes inconsequente, o parlamentar enfrenta processo no Conselho de Ética da Assembleia – e deve ter o mandato suspenso por acusações que não conseguiu provar contra um colega.
Discrição
Cão de guarda na defesa da ideologia conservadora adotada por Bolsonaro, Lucas Fiuza, ex-presidente municipal do PSL, viveu neste período de um ano, uma gangorra política. Chegou a ser apontado como nome a se trabalhar para 2020, ganhou cargo importante no Governo (Min. do Turismo), mas foi vítima da retaliação do Planalto a Heitor Freire. Acabou demitido, mas conseguiu voltar ao cargo ao se distanciar de Freire. Depois, mergulhou. Lucas deixou o PSL e agora trabalha na viabilização do Aliança pelo Brasil. Adotou a discrição e pode voltar ao jogo.
“Me desfiliei do PSL. Não briguei com ninguém, mas fiquei um pouco chateado, ele (Heitor) mudou o rumo do partido. Estou vendo uma união entre o pessoal conservador agora. Já está havendo uma coalização em torno do Aliança Pelo Brasil”, diz Lucas Fiuza
Cenário indefinido
Também compõe a lista de apoiadores do presidente o empresário Manoel Cardoso Linhares, ligado ao setor do Turismo. Distante da política partidária até aqui, ele deve ser o presidente do Aliança pelo Brasil no Ceará, mas não é provável que seja um cabeça de chapa das eleições da Capital no próximo ano. O cenário atual para os aliados de Bolsonaro, assim como ocorre no grupo que está no poder no Ceará, é de indefinição.
Inácio Aguiar
Análise da conjuntura política, bastidores e tudo sobre o clima eleitoral