
Carlos Mesquita, Ferreira Aragão, Tin Gomes, Déborah Soft e o ícone da música cigana Sidney Magal: por pouco, essa não foi parte da composição da Câmara Municipal de Fortaleza em 2004. Compositor de sucessos como “Meu Sangue Ferve Por Você” e “Sandra Rosa Madalena”, o artista chegou a se filiar ao Partido Popular Socialista (PPS) como parte do plano de virar vereador da capital cearense.
No fim, Magal acabou trocando a possibilidade de se candidatar para uma cadeira no Legislativo por uma “ponta” como Frazão, um surfista veterano que se envolveu com a Mamuska, interpretada por Rosi Campos, na novela “Da Cor do Pecado”, da TV Globo.
Um ano antes da eleição, o cantor começou a frequentar festas beneficentes em Fortaleza, demonstrando “ter aspirações eleitorais”, conforme noticiou a edição de 5 de outubro de 2003 do Diário do Nordeste. Somou-se a isso a filiação do cantor ao partido, que, à época, tinha como principal representante cearense o então ministro Ciro Gomes (PDT).

ME CHAMA QUE EU VOU
Foi inclusive o hoje pedetista quem convidou Magal para o partido. A “salvação” para ele não dar o próximo passo e virar de fato candidato, segundo o próprio cantor, foi a novela.
“Fui convidado pelo partido do Ciro Gomes para me candidatar a vereador. A novela ‘Da Cor do Pecado’ (2004) me salvou. Comecei a ficar inebriado com a ideia de ser um político querido. Cheguei a me filiar. Mas eu sabia que não tinha competência para isso. Quando a Globo me chamou para a novela, entrei em xeque. Se entrasse para a política, não poderia fazer a novela. Optei pela carreira artística. Mas passei três dias pensando”
SIDNEY MAGAL
Em entrevista ao jornal Folha de Londrina, em 2011
A chegada de Magal ao PPS Fortaleza também chamou atenção nacional. A coluna Radar, da revista Veja, noticiou a articulação partidária que tentava ampliar o grupo oposicionista na Câmara de Fortaleza para derrotar o prefeito Juraci Magalhães (PMDB).
À época, um dos nomes da oposição e que liderava o PPS era o atual secretário da Cultura de Fortaleza, Elpídio Nogueira, irmão do prefeito José Sarto (PDT). A certeza da eleição de Magal era tanta que, segundo o secretário, a ideia era de que ele “puxasse votos” e elegesse outros vereadores.
“Havia um movimento no Brasil todo de filiar alguns artistas e jogadores de futebol para serem puxadores de voto. Na época, ainda havia a possibilidade composição com vários partidos para disputar a Câmara e você conseguia eleger candidatos de outras legendas”, relembra Elpídio.

DE TIRIRICA A DÉBORAH SOFT
A prática é comum até hoje no Brasil. Um dos casos mais famosos envolveu o palhaço Tiririca, que disputou eleição pela primeira vez em 2010 e foi o deputado mais votado do Brasil, com 1,3 milhão de votos.
Outro exemplo ocorreu em Fortaleza naquela eleição que Sidney Magal planejava disputar. A ex-stripper e ex-dançarina Déborah Soft fez uma investida eleitoral e conseguiu ser eleita como uma das parlamentares mais bem votadas da Capital, obtendo 11.590 votos.
ENTRE UMA NOVELA E UMA CAMPANHA
Na entrevista em que comentou o assunto, em 2011, Magal revelou que a decisão de não disputar uma vaga na Câmara Municipal de Fortaleza foi um dilema em sua vida.
“Como político, eu podia ter três mandatos de quatro anos e sobreviver financeiramente por 12 anos. O artista tem dúvidas: ‘Será que vou continuar ganhando dinheiro daqui a 5, 10 anos?’. Hoje, política é emprego. Mas não aceitei. E nunca mais quero saber desse papo de política”
SIDNEY MAGAL
Cantor
No entanto, o artista avaliou a decisão como acertada. Ele, inclusive, criticou colegas que decidiram investir na política, como Rita Cadillac — “não tem cabeça pra isso”—; Tiririca — “vai ser uma marionete” —; Agnaldo Timóteo — “uma pessoa espalhafatosa e radical”—; e Gretchen — “Pelo amor de Deus! Não faz isso”.
