Uso emergencial: quem pode e não pode receber a vacina da Pfizer/BioNTech

Uso emergencial: quem pode e não pode receber a vacina da Pfizer/BioNTech

Com o início das vacinações emergenciais no Reino Unido e o anúncio de data para início de vacinação emergencial em São Paulo, começam a surgir várias dúvidas sobre quem pode e quem não pode receber o imunizante contra a Covid-19. Primeiro, é importante entender que nenhuma vacina ainda está registrada para uso geral no mundo.

No momento, os usos são emergenciais e destinados para grupos específicos. No Reino Unido, estão sendo vacinados idosos, seus respectivos cuidadores e profissionais de saúde. Já no Brasil, o Ministério da Saúde (MS) afirmou que serão priorizados profissionais de saúde, idosos, indígenas e quilombolas.

Além disso, apenas a vacina desenvolvida pela Pfizer e BioNTech disponibilizou os dados, tanto em bula após autorização do Reino Unido, quanto em um relatório de 92 páginas, disponível na Food and Drug Administration (FDA), agência fiscalizadora dos Estados Unidos. Já a Coronavac, vacina da empresa farmacêutica Sinovac com o Instituto Butantan, deve enviar o dossiê à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no dia 15 de dezembro. Então, a Anvisa terá 72 horas para dar um parecer sobre o produto.

Assim, O POVO entrevistou a neurocientista e coordenadora da Rede Análise Covid-19, Mellanie Fontes-Dutra, para comentar algumas especificidades da vacinação pela Pfizer/BioNTech.

Contraindicações

Gestantes e lactantes foram encaixadas na lista de contraindicações da vacina, já que não integraram o corpo de voluntários para testes da Pfizer, explica Mellanie. Sem presença do grupo no estudo clínico, a pesquisa é incapaz de garantir os níveis de segurança e eficácia da vacina em gestantes e lactantes.

O mesmo ocorre com pessoas menores de 16 anos. A faixa etária até teve alguns voluntários, mas em número insuficientepara garantir dados concretos de segurança.

Há ainda uma recomendação de que, ao menos por enquanto, pessoas com alergias “significativas” não recebam as doses emergenciais da vacina Pfizer, conforme alertou a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA). As alergias significativas são aquelas que incluem medicamentos, alimentos ou vacinas. 

Pessoas imunocomprometidas e o tempo para resposta imune

De acordo com o relatório da Pfizer/BioNTech, “pessoas imunocomprometidas, incluindo indivíduos recebendo terapia imunossupressora, podem ter uma resposta imunológica diminuída à vacina”. Ainda, a pesquisa não tem dados disponíveis para entender o que acontece quando a pessoa é vacinada enquanto usa, simultaneamente, remédios imunossupressores.

Mellanie explica que a pesquisa não contraindica a vacinação de pessoas imunocomprometidas, mas que é preciso ter atenção redobrada ao público  e orientação dos profissionais de saúde para cada caso. 

Em relação ao tempo para gerar proteção contra a Covid-19, a vacina Pfizer/BioNTech leva sete dias após a segunda dose. Funciona assim: a vacina é administrada na forma intramuscular (geralmente no músculo do braço) e em duas doses de 0,3 mililitros cada. Após a primeira dose, espera-se 21 dias para tomar a segunda. A Pfizer é bem clara ao alertar que, tomadas as duas doses, o corpo demora em torno de sete dias para gerar imunidade.

Afinal, a função das vacinas é provocar uma resposta do sistema imunológico a um antígeno (o causador da doença) específico. O corpo humano, por sua vez, precisa de tempo para identificar o antígeno e gerar uma proteção – ou seja, não é como um passe de mágica. Mesmo com vacina, éessencial seguir as medidas de segurançacomo uso de máscaras de proteção, distanciamento social e evitar aglomerações. A espera após vacinação para estar definitivamente protegido existe para qualquer vacina, contra qualquer antígeno.

Quem teve Covid-19 precisa se vacinar?

Para Mellanie e outros especialistas, sim. Ainda que a ciência já tenha avançado muito, alguns aspectos da resposta imunológica do corpo humano à Covid-19 ainda são desconhecidos. A duração e força da resposta imunológica natural à doença precisam ser melhor compreendidas.

Em casos leves de Covid-19, por exemplo, existe a possibilidade que o corpo não tenha desenvolvido uma resposta marcante o suficiente. Por isso, a especialista entende que o ideal é que pessoas que já foram infectadas pelo novo coronavírus também recebam a vacina.

Por outro lado, é provável que elas fiquem mais para o fim da fila para garantir a imunização de outros grupos. O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, chegou a defender em agosto deste ano de que, a primeiro momento, a vacinação deveria excluir quem já teve Covid-19.

A justificativa está no limite do número de doses. “Até pode vacinar, não necessariamente necessita. Num primeiro momento [de vacinação], aqueles que não tiveram a infecção e, num segundo momento, aqueles que tiveram. Vamos acompanhar”, afirmou durante ação de testagem em São Paulo.

Recorte dos voluntários

Analisando o relatório da Pfizer/BioNTech, a coordenadora da Rede Análise Covid-19 ressaltou alguns dados sobre os voluntários da pesquisa no Twitter. O Estudo C4591001 (Estudo 2) da Pfizer envolveu aproximadamente 44 mil participantes, com 12 anos de idade ou mais. Deles, foram 21.720 participantes com 16 anos de idade ou mais que receberam pelo menos uma dose da vacina de mRNA testada e outros 21.728 participantes com 16 anos ou mais que receberam o placebo.

As reações adversas mais frequentes foram dor no local da injeção, fadiga, dor de cabeça, mialgia (dor muscular), calafrios, artralgia (dor nas articulações) e febre. Os sintomas foram geralmente de intensidade leve ou moderada, e melhoraram poucos dias após a vacinação. Nos casos necessários, o tratamento com remédios analgésicos pode ser utilizado.

“A segurança da vacina de mRNA COVID-19 BNT162b2 foi avaliada em participantes de 16 anos de idade ou mais em dois estudos clínicos realizados nos Estados Unidos, Europa, Turquia, África do Sul e América do Sul”, destaca Mellanie. Entre os que receberam o imunizante, 51,5% foram homens e 48,5% mulheres. Deles, 82,1% eram brancos e 9,6% negros.