
O motorista do ônibus que caiu na BR-381 causando a morte de 19 pessoas, Luiz Viana, prestou depoimento na tarde desta segunda-feira (7) na Delegacia de Polícia Civil de João Monlevade, na região Central de Minas Gerais, e alegou que houve problemas técnicos com o freio do ônibus. O delegado Paulo Tavares, responsável pela investigação, disse que o depoimento dele foi esclarecedor e condiz com o que foi dito por outras vítimas.
“Segundo ele, houve uma falha técnica com o veículo, isso vai ser confirmado ou não posteriormente com as provas periciais e testemunhais. Ele esclarece que o ônibus voltou de marcha ré e que houve um problema no freio do veículo. Ele chorou o tempo todo. Foi muito claro e conciso em suas colocações. O depoimento dele condiz com outros depoimentos e com algumas situações que já conseguimos apurar. Não há uma divergência grande no que ele fala e no que pode ter acontecido”, contou o delegado.
Durante o depoimento o motorista inclusive confirmou o que foi dito por passageiros sobre uma parada para troca de correias do veículo. “No entanto, ele afirma que não teve nenhuma pane anterior ao momento do acidente, o problema nos freios foi no momento do acidente”, explicou o delegado.
Viana chegou à delegacia por volta de 16h acompanhado de um advogado e o depoimento dele durou cerca de 3 horas. “Ele colaborou da melhor forma possível com a investigação e não se escusou de dar nenhuma resposta e prestou as devidas declarações e esclarecimentos dele”, complementa o delegado.
O condutor ainda disse que fugiu por ter ficado com medo. “Muitas pessoas que paravam no local ficavam perguntando por ele, que se sentiu acuado e resolveu fugir. Ele ficou na região de João Monlevade. Ainda de acordo com Tavares, Viana alegou que conhecia a BR-381 em Minas Gerais. Ele não estava sob efeito de drogas ou álcool e também não estava com machucados em decorrência de ter pulado do veículo antes da queda da ponte.
O motorista não ficou preso já que não havia nenhuma medida cautelar contra ele. Ele ainda vai prestar novas declarações durante o decorrer das investigações. “Não há nesse momento a necessidade da custódia cautelar dele. Ele estava bastante tranquilo e ao mesmo tempo bem emocionado”, explica Tavares.
De acordo com o policial, havia várias irregularidades no ônibus como duas crianças dividindo um mesmo assento do veículo e algumas no colo. “Dá para se perceber que é um transporte bem amador”, enfatiza o delegado. O policial quer concluir o inquérito o quanto antes, mas diz que depende do resultado das perícias técnicas que demoram um pouco mais e também de diligências fora do Estado.
Responsáveis por ônibus que caiu na BR-381 poderão responder por homicídio
A versão de perda de freio do coletivo, já contada por passageiros e agora confirmada pelo condutor, ganhou força. Caso a perícia confirme falha mecânica e possível omissão na manutenção do veículo, os donos das empresas responsáveis pelo coletivo poderão responder por homicídio.
“Precisamos aguardar a conclusão do inquérito para conhecermos as circunstâncias, mas, se ele apontar para esse tipo de omissão, as empresas devem e vão responder por isso”, afirma o delegado a frente do caso, Paulo Tavares.
Isso quer dizer que as empresas envolvidas poderão ser obrigadas a indenizar as vítimas, e os responsáveis por elas, pagar criminalmente. A Polícia Civil apura as responsabilidades dos envolvidos, uma vez que o ônibus é da Localima e o veículo teria sido arrendado pela JS Turismo. “Vamos analisar em um segundo momento o contrato fechado entre as duas empresas”, diz.
Filhas de donos da Localima também prestou depoimento e passou mal na delegacia
A filha dos donos da empresa Localima também prestou depoimento em João Monlevade, nesta segunda-feira junto com um advogado. A mulher passou mal e um médico precisou ser chamado.
“Ela veio em nome da mãe e do pai, que são os donos da empresa, para prestar auxílio às vítimas e foi procurada pela Polícia Civil para prestar depoimento. Segundo ela, não há gerência na empresa e ela não sabe como funciona a Localima. Perguntamos sobre várias coisas que ela não soube responder. Por questões emocionais ela passou mal”, concluiu o delegado.
Na semana que vem, os donos da Localima devem ir a João Monlevade para prestar depoimento. De acordo com a polícia, ao todo, já foram 10 pessoas ouvidas oficialmente no inquérito. Segundo o delegado, os depoimentos dos passageiros têm poucas divergências relacionadas às condições psicológicas das vítimas.
Motorista era temporário e empresa fala em imprudência
Viana era temporário na empresa Localima, responsável pela viagem. A informação foi dada por Flaviano Carvalho, que representa a empresa e está em Minas Gerais, nesta segunda-feira (7).
De acordo com ele, por causa da pandemia, as viagens ficaram um bom tempo paradas, mas quando voltaram foi necessário contratar mais motoristas.”Ele era experiente e já tinha trabalhado em outras empresas de viagens de ônibus”, explicou Carvalho.
Ainda segundo ele, um motorista reserva também viajava no ônibus. Conhecido como “Bebeto”, ele era mais experiente nas viagens. Bebeto dormia nas últimas cadeiras do ônibus no momento em que houve a queda e morreu no local do acidente. Ele era natural de Mata Grande, em Alagoas. Viana é de Paulo Afonso, na Bahia.
“Só o motorista vai poder explicar, mas acreditamos que foi uma imprudência do motorista”, conclui Carvalho.
O acidente
Na última sexta-feira (4), o ônibus que saia de Mata Grande, no Alagoas, com destino a São Paulo, apresentou problemas, voltou de ré e caiu de 23 metros da Ponte Torta, na BR-381, em João Monlevade, região Central de Minas. O acidente deixou 19 pessoas mortas, sete permanecem internadas no Hospital Margarida, em João Monlevade e três estão no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte.