Os cigarros eletrônicos, já amplamente disseminados em países como os Estados Unidos e que passaram a ganhar popularidade no Brasil, tiveram seu consumo proibido, por lei, em ambientes públicos e privados do Ceará.
A determinação que entrou em vigor no último dia 12 de novembro, suscitou um importante debate: esse tipo de dispositivo é nocivo à saúde? O Diário do Nordeste ouviu especialistas que, de forma unânime, apontam os perigos desses vaporizadores, também conhecidos por ‘vape’. Dentre os riscos, estão desde quadros de convulsão, diminuição da função pulmonar e até óbito, como já registrado nos EUA.
Com uma infinidade de sabores – as chamadas essências – e modelos, os cigarros eletrônicos ganharam, à primeira vista, o rótulo de equipamento alternativo e menos nocivo aos cigarros convencionais, tanto que seu uso é, hoje, majoritariamente entre os mais jovens. Essa ideia, contudo, é desmitificada por especialistas.
Eles alertam que as substâncias contidas nos vaporizadores são até mais prejudiciais e podem desencadear uma série de complicados. Para os médicos ouvidos pelo Diário do Nordeste, a proibição é assertiva.
A médica pneumologista Kaline Cristh inicia alertando que, embora no Brasil o cigarro comece só agora a ganhar mais popularidade, nos EUA já há bastantes estudos sobre o assunto, inclusive tendo a ciência já descoberto “vários malefícios”. “Quem utiliza esse tipo de equipamento pode desenvolver distúrbios respiratórios gravíssimos, chegando inclusive a óbito”, afirma.
O otorrinolaringologista Paulo Manzano, reforça o alerta. Segundo explica, os dispositivos “são maléficos à saúde e em sua maioria contêm aditivos com sabores, substâncias tóxicas e nicotina podendo causar dependência, adoecimento e morte”.
RISCOS À SAÚDE
Existem vaporizadores com diferentes níveis de nicotinas, algumas essências prometem ser zeradas de nicotina. No entanto, até mesmo estas opções, comercializadas como sendo menos prejudicais, não devem ser consumidas, advertem os especialistas.
Paulo Manzano enumera que além da nicotina, por si só já bastante nociva, os cigarros eletrônicos possuem metais pesados em sua composição, como chumbo, níquel e cádmio. Todos os modelos podem gerar “dependência, além do risco de doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer”.
O próprio vapor gerado pelo dispositivo eletrônico também pode causar inflamações pulmonares, acrescenta o otorrinolaringologista. Para os que possuem nicotina, os danos são maiores, explica Manzano.
O tabaco além de agredir o endotélio, tornando as artérias mais suscetíveis à formação de placas ateroscleróticas, desequilibra a função fisiológica da parede endotelial vascular aumentando o processo inflamatório, formação de placas ateroscleróticas e trombos.
A médica Kaline Cristh acrescenta como danos à saúde causados pelos cigarros eletrônicos a diminuição da função pulmonar, o maior risco de eventos cardiovasculares, crise anginosa – corresponde à sensação de peso, dor ou aperto no peito, semelhante ao enfarto -, e danos imunológicos. “Quando a imunidade cai, abre a porta para vírus, bactérias e fungos. Assim, pode-se desenvolver outros tipos de infecção”.
O médico otorrinolaringologista lembra também que, em tempos de pandemia, o compartilhamento de equipamentos não é uma prática recomendável devido à facilidade de transmissão do vírus da Covid-19.
Possíveis danos:
- náusea,
- vomito,
- queimaduras,
- irritação do trato respiratório superior,
- tosse seca,
- ressecamento ocular,
- decréscimo da exalação de óxido nítrico sintetizado nos pulmões,,
- alterações brônquicas,
- risco de câncer de pulmão,
- dentre outros.
PROIBIÇÃO NO BRASIL
Diante desses riscos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu em 2009 a comercialização desse tipo de dispositivo no Brasil, embora ele ainda continue sendo vendido em lojas online e físicas. Essa compra sem qualquer controle ou inspeção da Anvisa, na avaliação de Kaline Cristh, torna-se ainda mais perigosa.
“As pessoas adquirem algo que é aprovado pela Anvisa e, dessa forma, não tem como saber exatamente o que está naquela substância, sendo ainda mais perigoso à saúde” , descreve. A própria Agência, em 2017, já havia elaborado um documento apontando para a falsa sensação de segurança desses cigarros eletrônicos.
A médica pneumologista acrescenta externando que “a Anvisa não deve liberar o uso [dos vaporizadores], como foi feito nos EUA, e devemos sim fazer campanha orientando adultos, adolescentes e crianças que não é vantajoso trocar o cigarro convencional pelo eletrônico. O vantajoso é não fumar”.
Esse alerta, ainda conforme seu entendimento, tem que ser difundido principalmente para aquelas pessoas que têm risco pulmonares, como asmáticos e pacientes com doenças crônicas pulmonares ou cardiovasculares. “As nossas crianças têm que ser protegidas e os adultos precisam ser orientados de que esses equipamentos trazem riscos imensos à saúde”, conclui.
Esse apelo não é de exclusividade da médica pneumologista. Relatório da Convenção para o Controle do Tabaco, da Organização Mundial da Saúde (OMS), já pede para que os 181 países participantes do bloco proíbam dispositivos eletrônicos para fumar.