Os talibãs anunciaram uma anistia geral para todos os funcionários do Estado, nesta terça-feira (17). Em um comunicado, o grupo fundamentalista islâmico pediu que os servidores retornem ao trabalho normalmente e que as mulheres se juntem ao governo, dois dias após a organização retomar o poder no Afeganistão.
“Uma anistia geral foi decretada para todos (…), portanto devem retomar sua vida cotidiana com total confiança.”
Conforme o jornal Al Jazeera, do Oriente Médio, o membro da comissão cultural do talibã, Enamullah Samangani, deu as primeiras declarações oficiais do novo regime. Ao canal de televisão estatal RTA ele se referiu ao Afeganistão como “Emirado Islâmico”. “O Emirado Islâmico não quer que as mulheres sejam vítimas. […] Elas devem estar na estrutura do governo de acordo com a lei Sharia.”
Samangani ainda acrescentou: “A estrutura do governo não é totalmente clara, mas, com base na experiência, deve haver uma liderança totalmente islâmica e todos os lados devem se juntar.”
Desde que entraram em Cabul no domingo (15), após uma ofensiva relâmpago que permitiu o controle de quase todo o país em apenas 10 dias e provocou a fuga do presidente Ashraf Ghani, os talibãs multiplicam gestos que pretendem ser tranquilizadores.
Nesta terça-feira, a vida retornava ao normal em Cabul. Muitas lojas reabriram as portas, o tráfego era intenso e as pessoas voltaram às ruas. Os talibãs organizam o fluxo nas ruas e instauraram postos de controle.
Mas os habitantes da capital têm medo, sobretudo as mulheres, que em sua maioria não se arriscam a sair às ruas. Entre 1996 e 2001, quando governaram o país, os talibãs adotaram uma visão extremamente rigorosada lei islâmica. As mulheres eram impedidas de trabalhar e estudar.
Na segunda-feira (16), afegãos em pânico cercaram o aeroporto na tentativa de conseguir voos para fora do país enquanto os Estados Unidos e outros governos se apressavam para evacuar seus cidadãos.
Embora a calma tenha retornado ao aeroporto internacional de Cabul na terça-feira, no dia anterior centenas de pessoas invadiram a pista e se prenderam a lataria de uma aeronave da Força Aérea dos EUA enquanto ela decolava. Várias delas caíram durante o voo e despencaram de milhares de metros de altura, morrendo pelo menos sete pessoas na ocasião.
‘VERGONHA PARA OCIDENTE’
O presidente alemão Frank-Walter Steinmeier declarou, nesta terça-feira (17), que as cenas de desespero no aeroporto de Cabul desde que os talibãs tomaram o poder no Afeganistão são “uma vergonha para o Ocidente”.
A Alemanha, que também está retirando seus cidadãos e pessoas sob sua proteção, “deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para garantir a segurança dos alemães” no Afeganistão e de todos os afegãos “que os apoiaram durante estes anos”, disse o presidente.
Nos últimos dias, os líderes alemães não esconderam sua insatisfação com os Estados Unidos, cuja retirada militar precipitou a vitória dos talibãs, segundo eles.
A ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, pediu à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), nesta terça-feira, para tirar suas conclusões do fracasso no Afeganistão.
E a chanceler Angela Merkel classificou a situação de “amarga, dramática e terrível”, dando a entender que a decisão dos Estados Unidos de sair do Afeganistão foi motivada por questões de política interna.