Paralelamente à imunização contra a Covid-19, será iniciada no dia 12 de abril a campanha nacional de vacinação contra o vírus Influenza, conforme divulgou o Ministério da Saúde. A necessidade da vacinação em massa, de forma simultânea, impõe mais um desafio à saúde pública, já sobrecarregada pela pandemia do coronavírus. E demanda mais planejamento na logística de distribuição dos diferentes imunizantes para os municípios.
No Ceará, ainda não há uma definição oficial de como a vacinação contra gripe vai acontecer. De acordo com a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), doses do imunizante já chegaram ao Estado na tarde da segunda-feira (5), mas as informações sobre a campanha serão divulgadas somente “em breve” em seu site.
VACINÔMETRO NO CEARÁ | COVID-19
Até as 12h desta terça-feira (6), o Vacinômetro da Pasta contabilizou a aplicação de 1.220.878 doses de vacinas contra a Covid-19 em todo o Ceará, sendo 975.739 delas referentes à primeira dose (D1). Em Fortaleza, a soma das primeiras e segundas doses aplicadas é de 416.143.
“UM ESFORÇO A MAIS”
Assim como a campanha de vacinação contra a Covid, a imunização contra a gripe é necessária para evitar uma sobrecarga nos sistemas de saúde. Mesmo que o cenário atual seja “muito mais desafiador” pela presença do coronavírus, o Brasil não pode cogitar “abrir mão” de manter em dia a vacinação contra a Influenza, defende a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel.
“A vacinação do Influenza foi uma conquista e [por meio dela] se conseguiu diminuir bastante os casos de morte nos idosos. A partir do momento em que isso é removido, você deixa essa população novamente vulnerável a outros agentes. Então, é necessário que seja feito um esforço a mais”.
A especialista ressalta ainda que, em uma eventual paralisação total da vacinação no País, o Influenza pode apresentar “o mesmo padrão de mortalidade do coronavírus”.
AJUSTE DE CALENDÁRIOS
Ao contrário dos anos anteriores, a campanha de vacinação contra Influenza vai ser iniciada não com a imunização de idosos, mas com crianças, gestantes, puérperas, indígenas e trabalhadores de saúde. O objetivo é, justamente, evitar confusão com o calendário de vacinação contra Covid. Pessoas com 60 anos ou mais e professores foram remanejados para uma segunda etapa, a ser iniciada em 11 de maio.
Segundo Caroline Gurgel, o ajuste no calendário não repercute em nenhum efeito negativo para os idosos, pois o período epidêmico do Influenza já passou. A imunização deste ano já tem como meta a proteção das pessoas em 2022.
“O nosso período de circulação [do vírus Influenza] é de janeiro a março. Agora, vai começar o vírus sincicial respiratório, que atinge mais criança. Imunizar idoso primeiro ou depois não vai fazer diferença alguma”.
Para evitar confusão entre os calendários de vacinação simultânea, sobretudo para os idosos, a especialista sugere que sejam destinados postos exclusivos para vacinação contra gripe e outros, para Covid-19. E que as pessoas dos grupos prioritários sejam bem orientadas para que, assim, possam procurar o local correto para receber, no tempo devido, a dose necessária de cada vacina.
COVID E H1N1: TIRE DÚVIDAS SOBRE A VACINAÇÃO SIMULTÂNEA
O Diário do Nordeste conversou também com o consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), Keny Colares, que esclarece, a seguir, dúvidas sobre a aplicação simultânea dos imunizantes contra gripe e Covid-19.
QUEM JÁ FOI IMUNIZADO COM A PRIMEIRA DOSE DA VACINA CONTRA COVID-19, DEVE ESPERAR QUANTO TEMPO PARA TOMAR A VACINA CONTRA A GRIPE?
A orientação tem sido de dar um intervalo de, pelo menos, 14 dias antes e depois da vacina da Covid, que é uma vacina nova [para então tomar a vacina contra gripe].
E PARA QUEM JÁ TOMOU AS DUAS DOSES CONTRA A COVID. A ORIENTAÇÃO É A MESMA?
Se você já tiver tomado as duas vacinas para Covid e já tiver passado as duas semanas da última dose, você já pode receber a vacina da gripe ou outras que forem necessárias. [Nesse caso] não vai haver problema.
É POSSÍVEL TOMAR, NO MESMO DIA, DOSE DA VACINA CONTRA A COVID-19 E OUTRO IMUNIZANTE?
Não tem sido recomendado utilizar a vacina da Covid com qualquer outro imunizante. Não existe uma experiência nem estudos mostrando se existe ou não a interferência de uma vacina com a outra. Então, por precaução, é recomendado que se deixe um intervalo de duas semanas entre a vacina da Covid com qualquer outra vacina. Com o tempo, à medida que as informações forem surgindo, pode ser que isso não seja mais necessário, mas atualmente a recomendação é essa.
HÁ RISCOS DE UMA DAS VACINAS COMPROMETER A EFICÁCIA DA OUTRA? DE QUE FORMA?
Sim, é possível isso ocorrer. Na hora em que o nosso sistema imunológico está sendo estimulado para gerar proteção contra um agente [biológico], nem sempre é interessante que seja estimulado por duas vacinas ao mesmo tempo. É preciso ver, no caso da interferência da outra, se existe algum prejuízo à proteção [do indivíduo], se uma das vacinas pode não funcionar adequadamente ou se, de alguma forma, isso pode aumentar ou potencializar algum tipo de efeito colateral. Por isso, é interessante fazer o teste para ver se é seguro [realizar a imunização simultânea]. Não quer dizer que vá dar algo errado, mas como não tem informação no momento dizendo que é seguro, e é muito importante que a vacina para Covid seja feita e seja priorizada no meio da pandemia, então, por precaução, se estabeleceu esse prazo de duas semanas.
QUAL VACINA OS GRUPOS PRIORITÁRIOS DEVEM TOMAR PRIMEIRO? UMA É MAIS IMPORTANTE QUE A OUTRA?
Sem dúvida, no momento que a gente está passando, com grande número de casos de Covid e tem sido até observado a redução nesse cenário que a gripe, a Influenza tem sido menos comum, é muito mais importante que as pessoas não percam a oportunidade de fazer a vacina da Covid. Ela é que [representa] o grande fator de risco no momento. E, assim que possível, fazer a vacina da gripe.
OS EFEITOS COLATERAIS PARA QUEM TOMA AS DUAS VACINAS EM INTERVALOS DE TEMPOS MAIS CURTOS SÃO MAIS GRAVES? SE SIM, QUAIS SERIAM ESSES EFEITOS?
No geral, a proximidade entre vacina preocupa mais em termos de algum tipo de interferência na proteção que essas vacinas vão dar, ou seja, uma vacina prejudicar a outra do que [provocar] efeitos colaterais. Por isso, isso tem que ser testado antecipadamente.