A relação com a internet se intensificou ao longo das gerações. Inicialmente, o computador era utilizado com maior frequência e seu uso excessivo era motivo para preocupação dos familiares com os adolescentes. Hoje, os celulares são aparelhos indispensáveis na vida de jovens e adultos, pois permitem fácil acessibilidade e mobilidade. Entretanto, até que ponto pode ser considerado saudável o tempo de uso diário das redes sociais?
Marcio Acselrad, docente do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, explica que mais importante do que saber a quantidade de horas despendidas por um usuário na internet, é preferível saber se é uma questão que causa incômodo. “Precisamos evitar generalizações, depende muito do caso. Observando pelo princípio clínico da psicanálise, os prejuízos só serão reais se a pessoa estiver se sentindo mal. Então, para a psicanálise, não importa muito quantas horas o indivíduo passa na internet se isso não for uma questão para ele”, comenta o professor.
É comum que os usuários passem um longo período navegando nas redes sociais, movidos por inércia momentânea, intensificando o vício em apenas ‘rolar o feed’, mesmo sem estar vendo algo de fato interessante. Segundo o professor, esta problemática acontecia também quando a televisão era o foco. “Quando estudei a teoria da comunicação, fiz meu mestrado e doutorado na área de mídias, e era falado o mesmo sobre a televisão. E antes, se falava o mesmo sobre o rádio, provavelmente. É o que chamamos de gadgets, aparelhos eletrônicos que atraem a nossa atenção. O uso excessivo pode acarretar, por exemplo, maiores dificuldades de concentração. Se você foi educado em um regime de disciplina, leitura, você vai ter mais facilidade de concentração. Se você foi educado tendo acesso livre e ilimitado à internet, isso vai afetar o seu psiquismo e sua mente”, completa.
Entretanto, Marcio salienta que tal situação não deve ser visto como uma doença. “Chamar de doença é muito complicado, patologizar hábitos e costumes. Pelo viés da psicologia, determinar que é uma doença não me agrada, pois o problema não é a internet e sim a adição. O indivíduo deve procurar ajuda quando quiser, no momento em que a pessoa sentir que aquilo está sendo excessivo e atrapalha a sua vida e daqueles que o cercam”, explana ele.
Pelo viés positivo, o professor destaca os efeitos favoráveis das redes sociais e do mundo virtual. “Este período de pandemia prova que as redes sociais no sentido amplo, plataformas como google meet, zoom, estão permitindo que o trabalho continue, em home office. Seria ingenuidade dizer que as redes são nocivas e prejudiciais em si, a questão é sempre o uso que se faz”, ressalta.
As redes como aliadas
As mídias digitais, quando utilizadas de forma benéfica pelo usuários, podem funcionar como métodos eficientes para promulgar ideias e ações que impactam positivamente a sociedade.
José Fernandes Neto, 25, mostra que as mídias digitais podem ser utilizadas para alertar e incentivar sobre questões sociais. Graduando em Medicina na Universidade de Fortaleza, o aluno é presidente da Liga Acadêmica de Nefrologia e Urologia da Unifor (LINUR). Orientada pelo professor doutor Ivon Teixeira, a Liga objetiva desenvolver atividades no âmbito de ensino, pesquisa e extensão, voltados para a especialidade em Urologia e Nefrologia.
A Liga tem se dedicado a publicar em seu perfil no Instagram (@linur_unifor) postagens que incentivam a conscientização sobre o Novembro Azul. “Novembro Azul é um projeto da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a qual adotou o mês de novembro como o mês de combate ao câncer de próstata. Profissionais da área e Ligas Acadêmicas de Urologia composta por acadêmicos de medicina, desenvolvem ações com apoio da SBU para rastreio dos pacientes por meio de campanhas de conscientização e mutirões”, explica o aluno.
Para ele, a divulgação online facilita o acesso à informação. “O fato de ser uma divulgação online, facilita o acesso à informação e potencializa o alcance de pessoas de várias regiões. Com o crescimento da tecnologia, a SBU e Ligas Acadêmicas de Urologia tem fortalecido as redes sociais, através de postagens, lives e campanhas acerca do assunto”, destaca.
Já Livia Sousa Schmidt, 23, faz parte do projeto Ligas Unidas Pelo Bem. Graduanda em Medicina também na Universidade, a aluna explica que o projeto consiste na doação de cestas, alimentos e produtos de limpeza para pessoas em situação de vulnerabilidade. “Temos como foco moradores da comunidade do Dendê. As Ligas Unidas do Bem são compostas por estudantes de vários cursos da saúde da Unifor, totalizando 26 ligas”, completa.
Livia relembra que a ideia em desenvolver o projeto começou a partir de uma conversa com uma colega do seu curso. “Eu e minha colega, Diovanna, falamos sobre a nossa vontade em iniciar algum projeto social durante a pandemia, vendo os impactos que o desemprego e a vulnerabilidade social causam para muitos famílias. Somos orientadas por professores do curso e como muitos alunos demonstraram interesse, iniciamos o projeto no formato de vincular as ligas acadêmicas, para gerar maior engajamento dos estudantes”, relata a aluna.
A ação tem sido divulgada no perfil oficial do projeto (@ligasunidaspelobem). “Acredito que essa divulgação ajuda a incentivar as pessoas a sentirem vontade em participar do projeto, ou de até mesmo, iniciarem projetos parecidos com este”, destaca ela.
As redes sociais podem e devem ser utilizadas como meio para divulgar projetos sociais e acrescentar positivamente na vida dos usuários. O professor Marcio indica que o bom uso do tempo é o primeiro passo para melhorar a relação do indivíduo com a internet.
“Qualquer um que consiga organizar o seu tempo, realizar as tarefas que se propõe, sai na frente de quem é completamente desregrado, aqueles que não têm hora para começar e nem terminar nada. Nesse sentido, a internet é fácil de tornar alguém preso a ela: ela oferece tudo para todo mundo. Tudo o que você quiser, a internet disponibiliza de forma online. Recomendo moderação, controle e organização, para não se perder”, conclui Acserald.